Diferente da rua Maruri,
as casas da Protógenes Vieira se querem muito.
Cuidam umas das outras como cuidam-se os vizinhos,
nessa rua onde ainda se usa pedir xícara de acucar
e rezar a novena na casa do fulano, coitado,
que anda doente.
Aqui logo se repara na casa de vaidade boa
que quis se vestir de azul antes do Natal chegar,
e que falta faz o bom dia de sotaque meio búlgaro da Dona Verônica.
Saudades de olhar três, quatro vezes por dia
a caixinha do correio
so porque a portinha era tao mimosa que dava vontade de abrir
(mas era preciso pular a fileira de onze-horas),
de sentar nas janelas imensas descascando mimosa,
de usar o cedrinho pra brincar de pula-sela.
Saudades daquela inocência gostosa de crianca,
do tempo em que a escolinha era todo o meu universo e a minha mãe,
tao caprichosamente,
ordenava pequenas filas de biscoito
e fazia "naiche" pra eu levar na minha lancheira vermelha.
Saudades de quando dinheiro era sinônimo
de comprar licorzinho no Mengarda,
e da emoção de receber uma carta daquele guri que,
na fuga,
deixou pra tras um pé do chinelo.
Saudades de tantas páginas ainda em branco,
só esperando no silêncio do céu cheinho de estrelas
alguma coisa acontecer pra molhar a pena no tinteiro do destino.
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