terça-feira, janeiro 20, 2009

Sou eu, eu e mais ninguém.
Sou eu que me deito comigo mesma
pra falar de qualquer coisa,
falar nem sei de que.
Sou eu e meus desenhos,
eu e minhas marcas,
eu e minhas rosas, fadas, notas e corações.
Sou eu e a minha poesia de corpo,
eu e a melodia da saliva minha.
Eu e meu próprio silêncio,
meu próprio diálogo e monólogo,
meu teatro.
Minhas conjecturas (caras, todas muito caras),
meu alfabeto mono-poli-linguístico.
Eu e minhas sinapses,
minha química,
meus botões (que nem tenho).
Eu e a minha contagem do tempo,
meu segundo de duração totalmente particular,
meus lençois e meu sonhado cheiro de lavanda.
Meus adorados cachos.
Eu e eu.

quarta-feira, janeiro 07, 2009

E eu penso que todos os poetas são poetas dos olhos. Alguns, são poetas fotográficos, e há, de certo, poetas para todos (e de todos) os sentidos. O poeta do gosto, que delira com um morango ou framboesa; o poeta do cheiro, provavelmente com um pezinho no passado - um vestido (guardado), um cabelo, um bolo de laranja feito pela vó.
O poeta do som talvez possa ser o músico, mas não: ainda é o poeta do som, da sinfonia dos passos cruzando a calçada, da babel de um metrô parisiense, londrino, paulistano...
Pobre daquele que é poeta da pele. As prateleiras da botica do tato são de certo as mais vazias, as de menos e mais exóticas palavras. Penso no poeta da pele como um homem enlouquecido, com tanto pra dizer em uma tarefa quase impossível: sinapses, sinapses, sinapses. Depois de muito, ele atira o chapéu ao chão, toma um café e se cala, pensando que talvez, melhor ser pintor.
Dos dedos, narinas, da língua, ouvidos: todos os poetas são poetas dos olhos.