Pro meu avô...maquinista Ary Pereira
baixinha
"Puxa a linha, maquinista!
Não deixa de seguir viagem
se essa linha é rica em desvio,
se de monte e de vale é lotada,
é porque, como tela em vazio,
segue a vida e brinda tua chegada.
E se um vale, d'algum desses frios
ou nuvem, dessas carregadas,
te cobrir - deixa ser - logo vem
monte em flores pra rir tua andada
e não deixa de ir sempre além
porque agora é outra tua estrada
e essa vida que agora te espera
bem melhor que esse mundo de cães
também deve ser rica de ferro
e de linhas, de lírios e pão
Eu aposto que bem na entrada
tem laranja, mimosa e mamão
tem farinha, tem mil onze-horas
e cem pés de azedinho no chão..
Tá no fim, não desiste agora
que esse trem já não tem mais carvão
não tem carga, não tem passageiros
mas o apito ainda puxa-se à mão!
Sobe o morro, devagar, já vem chegando
lá vem vindo, pra te receber
muita gente querendo chegar
mas na frente, eu vejo alguém -
tão bonita, a vó do crochê...
Sei que cansa, mas corre, vai na frente!
Puxa a linha, maquinista..."
Um comentário:
Gostei bastante desse texto.
Lógico que, quando lí o título, me lembrei do texto "Trem de ferro" ( de Manuel Bandeira ). Adoro esse texto.
E é claro que o tema me lembrou do "Trenzinho do Caipira" ( de Heitor Villa-Lobos ).
Esse seu texto é simplesmente incrível :D
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