sábado, abril 30, 2005

De joelhos

"Faço agora uma encomenda que me cabe
quem me traz um dicionário pra saudade?
Que contenha amor em página marcada

E que diga com certeza mesmo em meia
que efeito causa a lua, quando cheia,
em quem só não acha graça no acordar

Que traduza o que imagino mas não posso
e se possível traga a tona o grito nosso
ou então que solucione meus porquês

E se então com tantos limites em pauta
não for visto, ou sequer se note a falta
que encaminhe só pra mim tal desejar

Mas não seja impiedoso e não me cobre
e que entenda esse presente como nobre
pra aliviar meu mar de incertezas"

Soneto sem voto, sem tempo

"Entre um tic, um tac, um clic e um descompasso
multidões mudam de forma e mudam passo
Entre um cloc, um bléin, um blón, uma ressalva
uma nota fica muda e vira pausa

Na verdade um ponteiro é só o início
de uma queda em dominó que se estende
Carregando no caminho quem, de ofício
tome nota e suicide em teu alpendre

Silencia: não eleva a voz ao dono da verdade,
da justiça que aos mensuráveis cabe,
ao algoz da tua sentença escondida

Não abafa: burla o modo como a vida é conduzida
sustentando em cada ombro a euforia
que espera quem alcança tal idade"

Ode ao Inverno

"Fluxo de vento que me toma de assustada
Impulso em movimento que me encosta na murada
Contínuo, segue os dias sem querer saber de mim
E tutor de seu caminho não se importa em ser sem fim

Qual a graça?
Onde está o desvario de ser temido?
Onde mora a exatidão desse assobio?
E onde fica o riso do que não abrigo?

Num casal de namorados, um conhaque, uma lareira
Cobertor com almofada, vinho, música, fogueira"

Só ouça

"Sobremesa antes do almoço, arrepio de corte grosso,
tudo isso lembra o sonho que não tive.

Que vastidão de incompletices..."

Atropelo

"meubemgostodevocêcomogostariadequalqueroutroalgué
mquemeaparecessenesseminguante"

sexta-feira, abril 29, 2005

Redenção

"Sei que só sou morte quando em terço
pois metade é muita coisa e não me cabe
mas como mostrar flor em campo ao vento
se fingindo o livro tranca e não se abre?

Chave-mestra disponível e em espera
já cansada da areia que encobriu
outro tempo, como que em outra esfera
fuso horário estacionado em abril

Quanta falta faz não ter o que não tenho
ou então me contentar com sonolência
não me julgo ainda assim disposta a sê-lo

Mas confesso que aceito se essa vida
resolver presentear com nova festa
e retorno com mais branco e poesia"

Dança Flamenca

"quando o bom é dois,
toda tarde é boa noite e é manhã
e o teu erro vira graça dia depois
e o que quero já se muda pouco assim

e os enganos só esperam tradução
e o teu corpo vive uma febre terçã
e as palavras querem explicar em vão
teu efeito e tua pausa de marfim

e em sossego deixo o ano renascer
e não quero ter semente de romã
nem torcer pra qualquer lírio florescer
quando as horas forem de jardim sem fim"

sábado, abril 23, 2005

Relato de um sonho sonhado

"Sonho etéreo mente leva,
som estéreo me eleva.
Te alegra?

Acha framboesa em pé de vento...

Em andatto vejo quadros
sem andar festejo fatos
Dias natos?

Culpa tua ausência e teu ver lento...

Fim de noite traz piscar
timbre em foice faz rondar
Posso estar?

Diz ser minha essência teu evento..."

Cimentismo Primeiro

......................e.
...................i.
..............s.a.f.
...........o.r.m...
............a.q....
..............u.....
..............e.....
..............a.....
..............s.....
..............s.....
..............u.....
....m.o.q.u......
...a.n.d.o.d.e.....
....i.t.o.e.d.u.....
......r.m.o.......

sexta-feira, abril 22, 2005

Fluxo de Oriente

"Creio na verdade,
que meu bem maior é menor em escala
que minha imensidão cabe nessa sala
e que cada vão tem o meu pesar."

Pó de Harakiri

"Tá aqui toda a minha vida em 4 linhas,
pode se servir.
Quentinha como pão de padaria.
Torne ao sa(ir)."

Hai kai sentimental

"Pra que querer canto,
se um pouquinho já diz tudo
e me invoca tanto?"

quinta-feira, abril 21, 2005

Rotina na Sé

"santa ma(ria) ouviu um lamento
numa uma manhã de terça-feira.
Ouviu o pranto do coitado,
a-notou no caderninho,
e seguiu com sua vida de santa
planando no celestial."

Erro

."deu.....................mafo......
..rmaq..................uete.......
...enga................nasu........
....rgeo..............laps.........
.....odeu..........mada..........
......ma;m.......asqu...........
.......eval......etal............
........suje...itos.............
.........eemv.(i)d..............
........arma..umco.............
.......ncei.......to?n............
......ãote.........enga...........
.....na,m...........oçaf..........
....rági...............il,c.........
...omum..............beij........
..o;nã...................osem...ate.

Joguete

"fantas( m )ia
lábia minha?
- gato mia."

Apelo

"Não vou mais rimar com sonho e fantasia
só com morte e funeral que vento leve
já bastou ter qualquer verso sem folia
olha bem e vê o fraco autor que rege

Minto bem, mas não me vale te enganar
se no choro não me sobra quem conheça
na verdade sou só louco a plagiar
sem um traço de sorriso que apareça

Mas se mesmo em mentira toco o peito
vale a pena restaurar soltura insana?
Só amor pra me levar onde me aceito...

E me olhando como quero que se mostre
e pedindo pra querer mesmo em defeito
Jura agora conduzir com valsa nobre?"

sábado, abril 09, 2005

Sem redoma

"Se você quiser viver no breu que me elevei
Enquanto você se pintava
Mostro em quarto escuro o que pouco a pouco encontrei
Nesse meu ego de folha riscada

Ou vacila em bruma e se conduz numa quebrada
Tira o mar da luz, esconde em sonho mão sem fada

Se você quiser que mostre o chão em que deite
Enquanto você me mudava
Acho um louco negro pra cruzar tua highway
E abrir, com chave, o que se acelerava

Mas não vira muda, leva em caixa uma alma alada
Volta ao dia em luz enquanto busco uma outra entrada

Se eu te soprar minha autoria em conto-rei
No manto em que eu sonhava
Faça de um provérbio o teu bolero onde direi
Que foi sim completa essa chamada

Só não abandona esse teu lado tão de errata
Vira em alquimia brisa pura de alvorada"

Um apelo ao que ainda há de triste

"Sons de carros, buzinas, faróis gritam.
Mulheres lavam as calçadas.

(...)

Meu peito,
que vazio marca cada grama de insatisfação!
Quanta revolta traz cada passo sem direção,
e quanta dor me cobre ao ver minha minimice.

Teu vil traço,
que me aponta a um passado em fio de algodão,
me convence a não parar em frente à multidão
e fracassa ao mostrar por dentro essa mesmice.

(...)

Noites em claro, vizinhas, lençóis ficam.
Doutores passam nossa entrada."

Vigília

"Pronta.
Pisco.
Peso.
Ainda tonta..."

sexta-feira, abril 08, 2005

Efeito cumulativo

"Meu mundo infla em balão de agaê,
onde sou toda a lona de estrada;
mas também bailo alfinete em pliê
pra um dia de libra marcada...

Nessa espuma em que me viro?

Numa idéia aleatória,
num balanço repetido,
em pouco ritmo ensaiado,
num centrismo corroído..."

Bula

"Vivo num turbilhão,onde me faço elástica.
Receita?
Pra abraçar o mundo e depois chorar de cansaço."

sábado, abril 02, 2005

Sopro de cera

"Vôo longe num segundo
e realizo tal desejo
meu e ter de correr mundo
quantos anos não te vejo!
Longe então mas perto agora
te abraço e beijo o queixo
conversamos como outrora
tantas coisas num só beijo!
por fim, hora de ir
quase esqueço por que vim
uma data de alecrim
toda sua pra te rir..."

8ª Dimensidão

"Vagueio; me bandeio pro lado de lá
alavanca em cadeia de impulso
combustível prum solto pensar.
De espera passou à mordaça
já que explora em domínio discreto...
me desloca o centro de massa,
raciocínio em ângulo reto.

Inútil; me elevo na grama de cá
o que antes seria concurso
passa agora à visão nimelar.
Não me serve qualquer cão de caça
se o preço sequer é correto...
esfarela como ao livro, a traça,
assinando sem ser mel concreto."