sábado, janeiro 07, 2006

Trem de ferro

Pro meu avô...maquinista Ary Pereira
baixinha
"Puxa a linha, maquinista!
Não deixa de seguir viagem
se essa linha é rica em desvio,
se de monte e de vale é lotada,
é porque, como tela em vazio,
segue a vida e brinda tua chegada.

E se um vale, d'algum desses frios
ou nuvem, dessas carregadas,
te cobrir - deixa ser - logo vem
monte em flores pra rir tua andada
e não deixa de ir sempre além
porque agora é outra tua estrada
e essa vida que agora te espera
bem melhor que esse mundo de cães
também deve ser rica de ferro
e de linhas, de lírios e pão

Eu aposto que bem na entrada
tem laranja, mimosa e mamão
tem farinha, tem mil onze-horas
e cem pés de azedinho no chão..

Tá no fim, não desiste agora
que esse trem já não tem mais carvão
não tem carga, não tem passageiros
mas o apito ainda puxa-se à mão!
Sobe o morro, devagar, já vem chegando
lá vem vindo, pra te receber
muita gente querendo chegar
mas na frente, eu vejo alguém -
tão bonita, a vó do crochê...

Sei que cansa, mas corre, vai na frente!

Puxa a linha, maquinista..."

Um comentário:

LameDuck disse...

Gostei bastante desse texto.
Lógico que, quando lí o título, me lembrei do texto "Trem de ferro" ( de Manuel Bandeira ). Adoro esse texto.

E é claro que o tema me lembrou do "Trenzinho do Caipira" ( de Heitor Villa-Lobos ).

Esse seu texto é simplesmente incrível :D